Em celebração ao Dia Internacional da Mulher Negra, Latino-americana e Caribenha, o SJMR publica a história de mulheres negras, latino-americanas e caribenhas, visando criar um espaço de compartilhamento e reflexão das vitórias e dificuldades enfrentadas. 

O Dia foi reconhecido pela ONU, em 1992, após o 1º encontro de Mulheres Afro-latino-americanas e Afro-caribenhas, na República Dominicana, que reuniu mulheres de 32 nacionalidades para discutir formas de combate a opressão de gênero, a exploração e ao racismo.   

No Brasil, desde 2014, a data também homenageia o Dia Nacional de Tereza de Benguela, líder da comunidade quilombola Quariterêre que resistiu bravamente à escravidão por duas décadas.     

As mulheres negras resistem, constroem e avançam diariamente em sua luta histórica para sobreviverem em uma sociedade estruturalmente racista, misógina e machista, se unindo para superar os diversos desafios para a reconstrução de uma nova história. 

“Somos tantas, com inúmeras qualificações e competências, devemos sim ter acesso e conseguir mostrar nosso trabalho”  

Para Franciele Santos da Silva, Analista da área de Gestão de Parcerias do SJMR em Porto Alegre, a construção de espaços que possibilitem a representatividade é de extrema importância, pois fortalecem a união e a inspiração para as gerações futuras seguirem na luta. “Tenho total consciência do quanto posso influenciar outras meninas e mulheres negras, latino-americanas e caribenhas, brasileiras ou não, da mesma forma que fui influenciada. Pensando em minha história, teoricamente eu tinha tudo para ser mais uma na estatística das minorias. Mas pela teimosia da minha avó, pude ter acesso à educação, conhecer um mundo com oportunidades e cheio de sonhos.” 


Franciele Santos da Silva, Analista da área de Gestão de Parcerias do SJMR, Porto Alegre 

O acesso ao Mercado de Trabalho é um grande desafio, sendo necessário vencer diversas barreiras e preconceitos tanto em processos seletivos, na abertura de oportunidades e em ambientes de trabalho.  

“Me tornei mãe solo com 22 anos, com muito carinho e parceria dos meus pais pude concluir meus estudos e buscar oportunidades. Fui a primeira da família a concluir o ensino Superior, possuo um cargo de nível hierárquico muito bom, tenho minha própria empresa de Educação Profissional, coorporativa e socio aprendizagem, o que para mim é mais um degrau em minha trajetória profissional e acadêmica, para eles é uma conquista. Mas tenho total consciência do que está por vir, pois a cada passo que dou ao futuro, carrego comigo muitos estereótipos e preconceitos aos olhos de outras pessoas, porém minha avó, aquela que citei anteriormente, sempre me ensinou que, não devemos baixar a cabeça e deixar que outras pessoas decidam o que será de nós. Nosso caminho somos nós que trilhamos. Hoje o mercado de trabalho está mais aberto a políticas de inclusão e diversidade, o que na minha opinião é ótimo. Somos tantas, com inúmeras qualificações e competências devemos sim ter acesso e conseguir mostrar nosso trabalho. O que não podemos esquecer é de onde viemos, lembrar que existem outras mais para vir, buscar promover e se posicionar dentro da sociedade. Só estamos hoje aqui por conta da luta de centenas de outras mulheres, politizar-se deve fazer parte de nossa construção, ajudar no desenvolvimento social e é nosso dever como seres Humano que somos.” comenta Franciele dos Santos Silva.  

“Ser mulher preta é resistir, é reconstruir histórias, laços e afetos que nos impediram de construir” 

Entender as constantes opressões que persistem sobre as mulheres negras, baseadas no racismo, sexismo e outros modos de discriminação, é para Roseane Trabuco, Analista Social no Serviço Jesuíta a Migrantes e Refugiados na Bahia, um fator determinante para construção de uma sociedade que busca “reduzir as desigualdades”.  


Roseane Trabuco, analista social no Serviço Jesuíta a Migrantes e Refugiados, Bahia 

Entre tantos desafios vivenciados pela mulher negra, da hiper sexualização ao desmerecimento intelectual, Roseane que atua também como pesquisadora, aponta que ainda hoje, pesquisas acadêmicas são questionadas ou desqualificadas por imprimir a subjetividade negra, enquanto aspecto condicionante. Segundo ela, este fato é uma das “marcas do racismo institucional que busca invalidar nosso conhecimento”. 

Só na América Latina e no Caribe, segundo um levantamento realizado pela Associação de Mujeres Afro, 200 milhões de pessoas se reconhecem como afrodescendentes. Contudo, mesmo sendo uma parcela significativa, esse grupo é o que mais sofre com as diversas violências sociais.  

Diante dos dados para Roseane, o 25 de julho “é uma data que indica nossa resistência, de exaltarmos nossa luta e organização política. É, também, uma data de reflexão, pois há muito o que conquistar e mudar, pois há um ponto em comum da América Latina e Caribe, a negação do racismo, em sua constituição. Por isso a importância da data, para que não esqueçamos quem construiu história e luta para mudá-la, por sofrer tantas violências”. 

“Quando a mulher negra se movimenta, toda a estrutura da sociedade se movimenta com ela. Então se nos unirmos, somos capazes de mudar o que nos cerca.” 

Para Andrea Perez, Analista Social de Meios de Vida do SJMR em Boa Vista, ser uma Mulher Negra, Latino-americana e caribenha significa ser uma lutadora constante, em que a mulher negra discute o seu papel frente de questões como: machismo, desigualdade social, pobreza e violência. 


 Andrea Perez, Analista Social de Meios de Vida no SJMR, Boa Vista  

“Ser mulher já é difícil, e ser mulher negra já adiciona um pouco mais das dificuldades, podendo sofrer racismo, e dependendo de sua origem enfrentar a xenofobia. Sou filha de um negro e uma indígena e desde pequena, me foi ensinado como me portar e como me sobressair de situações que minhas originalidades são “atacadas” e com o tempo eu me aperfeiçoei em lidar com isso, considero isso umas das minhas vitórias/conquistas mais especiais, que me ajudaram a me tornar uma adulta mais forte, e amar o que sou, Negra! Pois lembro de várias situações que o desafio primordial a ser vencido era o fato de lidar com o julgamento feito pela minha cor de pele.” comenta Andrea. 

Para ela a união é um super marco da luta e da resistência da mulher negra contra a opressão de gênero, o racismo e a exploração de classe, é ela que permite a mudança da realidade ao redor.  


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